
A belíssima frase  que entitula este artigo é  atribuída a São Padre Pio de Pietrelcina, o  santo capuchinho que  durante 50 anos viveu estigmatizado elevando a  todos com seus conselhos  e milagres, especialmente através do Sacramento  da Confissão. Ninguém  mais abalizado que ele para afirmar algo tão  verdadeiro e tão moderno.
Sabemos  como o Senhor esvaziou-se de sua  divindade e fez-se pequeno, fez-se  homem, fez-se pobre de todos os bens  do céu para tornar-nos ricos de  sua riqueza, como diz Paulo em  Coríntios. Sabemos, também, quantos  milagres ele realizou, quantos  mortos ressuscitou, quantas vezes a  natureza terrestre e angélica se  prostrou, em obediência, a seus pés  através do mar, dos ventos, das  curas, dos exorcismos.
Naturalmente,  todos desejamos seguir Jesus, ser  como ele, viver a vida dele, com os  seus pensamentos, seus sentimentos,  seu amor ao Pai e aos homens. Esse  desejo santo, contudo, tende a estar  mais atento aos milagres e  prodígios do que à paixão e à cruz. Queremos,  certamente, ser como  Jesus é: o Deus das maravilhas, o Filho do homem  enquanto amado e  seguido por muitos que, em seu tempo, iam atrás dele  fosse onde  fosse... exceto à cruz.
Mesmo seus  discípulos mais fiéis, aqueles a quem  escolhera e chamara pelo nome,  com eleição eterna e eterno afeto, mesmo  esses o abandonaram na cruz,  com exceção de João. É que muitos naquela  época, como muitos hoje,  buscam o Senhor pelo que ele lhes pode dar e  não pelo que eles podem  “dar” ao Senhor. Buscam o Senhor em sua glória,  mas fogem em sua cruz.
Para  entendermos bem esse mistério de troca de  amor, é preciso saber que o  Senhor assumiu nossa humanidade e jamais irá  separar-se dela. Jesus,  para sempre e sempre, é Deus e homem. É também,  cabeça da Igreja, isso  é, nossa cabeça, aquele a quem seguimos. Isso,  somado ao milagre  cotidiano da Eucaristia, significa que o Senhor que se  fez carne,  partilha conosco toda nossa vida: sofrimentos e alegrias,  dores e  felicidade. 
A partilha entre os que se  amam jamais é  unilateral. É exatamente porque Jesus nos ama que  partilha conosco sua  glória: as curas, os milagres, as ressurreições no  corpo e na alma, na  Igreja, na sociedade, na natureza. A maior e mais  nobre das partilhas,  porém, a partilha de sua paixão e cruz é o  fundamento mesmo de seu amor  por nós e do nosso por ele.
Ao  encarnar-se, assumiu para si nossa maior  podridão, nossa mais poderosa  fonte de sofrimento e causa de nossa  morte: o pecado. Sem jamais ter  pecado, tomou sobre si, em sua paixão e  cruz, todo o sofrimento e morte  que o pecado havia feito entrar no  mundo. O resultado foi sua morte na  cruz e sua ressurreição. 
Nós, como  corpo de Cristo, somos chamados a  amá-lo e ser corpo de seu corpo, alma  de sua alma, esposa, Igreja. O  amor consiste em estar presente tanto  na gloria quanto na dor. É verdade  que nossos atos de amor a Cristo não  acrescentam nada à sua cruz.  Entretanto, acrescentam – e muito – à  nossa salvação e à do mundo. É  nesse sentido que São Paulo diz:  “Suporto em minha carne o sofrimento  que faltou à cruz de Cristo”. 
Em  nossa vida, não precisamos buscar  sofrimentos, não é verdade? Eles  simplesmente nos alcançam de todas as  formas, como consequência do  pecado que marcou toda a criação. A grande  boa nova é que podemos, pela  cruz de Cristo, nos libertar desse  sofrimento exatamente como ele  mesmo se libertou: escolhendo livremente  sofrer a dor que se nos  apresenta não mais sozinhos, mas com ele e com o  Pai e tomando, com  ele, nossa cruz. Mas atenção: o sofrimento só se  transforma em cruz em  três condições: primeira, que transformemos a dor  que nos atinge em dor  livremente escolhida e acolhida por nós por amor a  Cristo e à  humanidade; segunda: que o unamos à cruz de Cristo, que  vence o pecado,  a dor e a morte; terceira, que o transformemos em ato de  amor a ele e  aos homens que ainda não o conhecem, isto é, que o amam e  obedecem.
O  mais lindo nessa história toda é que, ao  buscarmos Cristo não somente  em sua glória, mas também em sua cruz,  seremos dignos dela e dele. Ou  seja, viveremos uma vida de entrega de  amor a Cristo por amor ao homem.  O belo, porém, é que ao abraçar a cruz  de Cristo através de nossos  sofrimentos de cada dia, do menorzinho ao  maior de todos, estaremos  caminhando ... para a sua glória. 
Isso  mesmo! O caminho para a glória de Cristo e  do céu é a cruz. É unir-se a  ele através do amor, abraçando por amor o  sofrimento que ele abraçou  em sua paixão. Não há outro caminho para a  glória. E não há glória  autêntica que não seja a de Cristo. É por isso  que, com razão, o santo  diz: se só busca a Cristo em sua glória, então,  não és digno de sua  cruz. O contrário também é verdadeiro: se buscas a  Cristo em sua cruz,  serás digno de sua glória.
por Maria Emmir Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Shalom
 
 
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